02/08/2017

Luiz Carlos Winck

Muitos gramados, várias decisões

Encontro com Luiz Carlos Winck
Muitos gramados, várias decisões
O treinador conversou com a reportagem em um dos momentos mais intensos da sua vida. Dias após virar papai mais uma vez, ele ainda comandava o Lajeadense e estava ainda às vésperas de uma das partidas mais importantes da centenária história do clube, sabendo que era fator determinante para o sucesso nela. Também prestes a decidir a presença em outras duas finais e se seguiria ou não no convívio mais direto com o torcedor alviazul.
Ele chegou para o Encontro com o Esporte, na Arena Alviazul, pontualmente. Sorriso no rosto, mas um pouco mais tenso que o de costume. Tinha suas justificativas para tanto. Técnico de um dos momentos mais vitoriosos da história de 104 anos do Lajeadense, com certeza a maior se considerados os resultados práticos em campo, Luiz Carlos Winck se preparava para o treino com o grupo, às vésperas de outra “decisão”: a partida que decidiria a ascensão ou não do clube para a Série C do Brasileirão. Winck é umas das testemunhas e vertentes de um trabalho de reestruturação e continuação que iniciou há seis anos, quando já sob o comando do sobrenome Giovanella, ainda no saudoso Florestal, o clube voltou a frequentar a principal divisão do futebol gaúcho. Hoje, já na nova arena, a reestruturação já segue até por gramados nacionais e teve Winck à beira do gramado em muitos capítulos. As conversas sobre sua renovação com o clube eram outras que agitavam as salas e corredores do estádio na época do encontro, mas que acabaram sem sucesso assim como as últimas investidas do time em campo. Mas deixou sua marca.
Títulos
Winck, 52 anos, chegou ao clube em abril de 2014. Já havia antes frequentado os vestiários do Lajeadense, mas sempre o dos visitantes. Ex-lateral direito da Seleção Brasileira, jogou profissionalmente por 16 anos, e atuou até no antigo estádio do Florestal, como atleta de Grêmio e Inter. “Numa era de Gauchão ainda muito valorizado”, relembra ele, num saudoso semblante. Como técnico, com a rotina diária já ocorrendo no novo estádio Alviazul, assumiu o vestiário mandante do clube diante de uma torcida já mais animada com as conquistas do clube, como o vice-campeonato gaúcho 2013; título de campeão do interior e vagas na Copa do Brasil e Brasileiro da Série D de 2014. Com Winck o embalo seguiu. Foram mais sete decisões, com as conquistas da Copa Fernandão, Super Copa Gaúcha, Copa Sul-Fronteira ainda em 2014 e a Recopa Gaúcha já no início da atual temporada. Quando fala de um jogo especial, cita a final da Copa Fernandão. “Aquela partida e o título alavancaram as outras na sequência. Foi um jogo tenso, diante de uma equipe do Guarani de Venâncio muito boa, bem dirigida, e era um momento de afirmação para mim aqui e aquele grupo que eu havia formado”, afirma ele, agora envolvido com mais decisões. Winck estava há poucas de obter ou não a vaga na Série C nacional, e paralelamente às finais das copas Luiz Fernando Costa e Valmir Louruz e a reta final da Supercopa Gaúcha.
Carreira
Se marcou seu nome no futebol nacional numa carreira de sucesso como atleta, quer fazer o mesmo com a de treinador. Já são 13 anos em casamatas por diversos clubes do país. Mas é agora que vê seu nome despontar com mais frequência e evidência como um dos bons exemplares da chamada nova geração de treinadores. “Vivi muito o futebol do Norte, Nordeste. Passei rapidamente por São Paulo, Paraná e só depois retornei para o Sul. Então recuperei meu mercado aqui a partir de 2012, quando fui campeão da Divisão de Acesso com o Esportivo, Copa Serrana em 2013 com o Passo Fundo e os títulos e vices aqui com o Lajeadense. Agora ainda estamos disputando a reta final de outras três. Então são sim bons resultados e a gente fica feliz por isso”, diz ele, olhando para o relógio. O treino dos atletas na academia acabou e no gramado começa em minutos.
Quanto a este futebol moderno que vive e é figura representativa, explica. “Avançou muito na parte física, na área de fisiologia, mudou a maneira de trabalhar, se modernizou bastante. Na minha época as equipes jogavam muito num 4-4-2, num quadrado normal, hoje as variações são múltiplas. Cada treinador tem uma maneira de jogar. Coisa que na minha época de jogador não tinha. Mas principalmente quanto à parte física. Esta intensidade, velocidade são determinantes. Nos grandes clubes isso liado à parte técnica. Nos clubes médios e pequenos é importante ter um time intenso o tempo todo”, avalia ele, ao fixar olhar no mural do vestiário, onde três folhas trazem a tabela de jogos das competições e outras anotações.
Sem gritos
Com voz branda, Winck também fala dos ex-treinadores com quem trabalhou. Revela o que aprendeu com eles e leva para o seu vestiário hoje. “Tenho dois treinadores em especial. Um Cláudio Duarte, que me promoveu aos profissionais. Outro Ênio Andrade, um dos mestres que tive na época de atleta. A questão do comando sem gritar. Saber que o grupo tem que lhe respeitar, mas que para isso não é preciso estar aos berros, e isso eu levo muito em conta na minha vida profissional. Tens que ter visão e convicção de suas decisões. Ser, estar e passar tranquilidade”, garante ele, ao levantar da cadeira para se dirigir ao treino. No corredor, ao lhe perguntarem como está a filha Helena, o sorriso volta a aparecer. Ao pisar no gramado da Arena Alviazul, a seriedade volta a estampar seu rosto. “Vamos aquecer pessoal...”
Perda de vaga; título e despedida
Horas depois do Encontro com o Esporte, Winck comandou o time na partida que não garantiu ao clube de Lajeado a vaga na Série C, ao ser eliminado nas quartas de final pelo River (1x1 em Lajeado; 3x0 para os mandantes no Piauí). Por outro lado a equipe bateu ao Pelotas, conquistou a Copa Luiz Fernando Costa e com isso será um dos representantes do RS na Copa do Brasil do próximo ano. Na semifinal da Copa V. Louruz, derrota nos pênaltis para o São José após dois empates (1x1 em Lajeado; 0x0 em Porto Alegre). E na semifinal da Supercopa, o elenco foi superado pelo Cruzeiro de Gravataí e deixou assim de disputar outra decisão. E 48 horas após, Winck deixou oficialmente a casamata do clube. Irá comandar o Veranópolis na temporada 2016. “As lembranças de Lajeado serão sempre de gratidão e alegria”, destacou, na despedida.
Na rota dos grandes clubes e jogos
Winck, se mostra muito satisfeito com o que já viveu Lajeado. “Me sinto muito feliz, tranquilo. Convicto do que fizemos, de onde chegamos e onde podemos chegar”, atesta. Para ele, independente da vaga na Série C, falta pouco para o Lajeadense entrar de fato e de vez na rota dos grandes jogos nacionais, para conseguir por exemplo o que alguns clubes catarinenses, em situações muito parecidas a de Lajeado e o Vale, já conquistaram hoje. “Precisa em primeiro lugar do apoio do Vale do Taquari, não apenas do de Lajeado. Necessita de torcida, 3, 4 mil torcedores presentes no estádio, multiplicar o número de seus associados, para então começar a apensar a ter uma equipe a nível nacional, pois o resto virá como consequência”, afirma. Se mudanças, como foi a de endereço, ou até mesmo de nome, não tão identificados com uma cidade, como fizeram já outros clubes, ajuda, ele reitera. “É fundamental sim é a participação. Se ‘a’ Lajeadense, como se referiam ao clube lá no Nordeste quando fomos jogar agora, é a equipe da região hoje, que se apoie ele. Que se crie consulados nos municípios vizinhos, que a mobilização seja maior, o apelo maior, para que a área financeira também possa estar bem definida e assim crescer”, finaliza.
Frase
“Gritar não é a garantia de comandar. Mas sim ter convicção de suas decisões. Ser, estar e passar tranquilidade.”
Foto: Caco Konzen

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