04/08/2017

Miguel Anka

Professor faixa preta sonha em ser o rei no tatame no Mundial de Jiu-Jítsu

Professor faixa preta sonha em ser o rei no tatame no Mundial de Jiu-Jítsu
Miguel Anka, 33 anos, já faturou o título uma vez - quando era faixa azul -, mas, agora, o desafio é ainda maior
Em poucos minutos de conversa é possível entender por que Miguel Anka, 33 anos, coleciona seguidores. Não bastasse o seu histórico de competições vitoriosas, o lutador esbanja humildade e respeito com todos que o cercam. Prova disso é que esses dois valores se tornaram a filosofia da Academia Haubert Team Estrela, onde atua como professor de jiu-jítsu.
Natural da Venezuela, Anka reside no município de Estrela desde os seus 3 anos de idade. Na época, mudou-se para a cidade com a família. A adaptação foi rápida. Anos depois, o atleta ganhou reconhecimento pelo seu trabalho e, em 2009, recebeu o título de Cidadão Estrelense, o que, na verdade, só oficializou o sentimento que já existia em seu peito.
Entretanto, antes do reconhecimento, Anka passou por algumas experiências até realmente encontrar o lugar onde se sentisse realizado dentro do mundo esportivo. “Joguei futebol por um período, momento em que fiz testes no Grêmio e no Internacional; depois, entre os 14 e os 20 anos, participei de competições de canoagem.”
Com 20 anos, o atleta migrou para as aulas de capoeira, depois começou a frequentar academia e passou a estudar Educação Física. “Sentia que nenhuma dessas práticas esportivas era a que realmente me fazia feliz.”
O gosto por cada esporte existia, pois Anka afirma que sempre foi bastante hiperativo, e o espírito de competição sempre esteve muito vivo, mas foi na primeira aula de jiu-jítsu que algo mudou, e o sonho do jovem passou a tentar se tornar faixa preta e mestre. “Quem me apresentou ao jiu-jítsu foi o amigo Davi Blankenheimer. Desde então, é nesse esporte que realizo os meus sonhos e do qual tiro o meu sustento.”
Dedicação diária
Quando ingressou no jiu-jítsu, Anka fazia aulas em Lajeado. Como todo principiante, era faixa branca. “Encontrei muitas dificuldades no início, e isso é bem normal, pois é uma arte que exige muito do atleta.” O professor diz que sempre foi bastante detalhista, e isso contribuiu de forma positiva para que os seus resultados no tatame melhorassem a cada novo treino. “Tive que trabalhar aspectos nunca vistos, mas o bom disso tudo é que, quando se aprende jiu-jítsu, nunca mais se esquece.”
Com treinos de segunda a sexta-feira, logo Anka teve o seu trabalho recompensado quando conquistou a faixa azul e, com ela, faturou o título de campeão mundial de jiu-jítsu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Tempos depois, o atleta recebeu a faixa roxa e foi vice-campeão mundial. “Aos poucos, comecei a competir e me destacar.”
Bastante esforçado e sempre em busca do seu melhor, a conquista da faixa marrom foi só uma consequência. “Com a faixa marrom consegui ser campeão sul-americano e campeão brasileiro.”
Há dois anos, a tão aguardada faixa preta foi amarrada na cintura de Anka, título que possibilita que o atleta encare a responsabilidade de ensinar outros futuros campeões. “Minha rotina é bastante agitada, concilio o trabalho na Academia Haubert Team Estrela e o projeto social com a Smel, as aulas na academia em Venâncio Aires e também a preparação para as competições.” Além disso, em algumas ocasiões, o professor dá aulas particulares.
Trabalho de mestre
Trabalho nunca foi problema para o professor. Pelo contrário, ele diz que lidar com pessoas é prazeroso. “No turno da manhã, meu tempo é dedicado às crianças, dentro do projeto de jiu-jítsu da Smel. De tarde e à noite, divido os dias da semana entre as academias de Venâncio Aires e Estrela.”
Anka explica que a Academia Haubert Team Estrela, localizada na Academia Corpus, é uma filial da matriz situada em Dubai, nos Emirados Árabes, a qual tem o mestre Davi Blankenheimer na retaguarda. Além disso, a academia também está presente em Barcelona. “É uma possibilidade que os atletas possuem de fazer um intercâmbio para treinar, assim como eu já fiz em cinco oportunidades em Dubai e uma vez em Barcelona.”
Ao todo, o professor agrega cerca de 300 alunos, entre adultos e crianças. E, desde 2015, possui uma turma feminina de jiu-jítsu, criada por sugestão da sua esposa, Alessandra Nunes. Hoje, o grupo já conta com dez integrantes mulheres, com dois horários diferentes. “Comecei somente com a minha esposa e mais uma amiga, depois, o grupo foi aumentando.”
Para todos os alunos, Anka repassa a importância de manter o respeito e a humildade dentro do tatame para que, depois, esses valores sejam levados para a vida profissional e pessoal de cada atleta. “O princípio básico é manter a disciplina. Acabo absorvendo algumas coisas, mas jamais trago questões de fora - problemas pessoais ou profissionais - para dentro das aulas.” O “descanso” fica para os fins de semana em que não há competições, nem aulas particulares.
Mas quando há competições, Anka está pronto para o combate. Nos dias 20 e 21 de fevereiro, o professor participou de uma seletiva em Gramado. Na oportunidade, o faixa preta não conseguiu garantir a sua vaga para o Mundial que vai se realizar no mês de abril, nos Emirados Árabes, mas a luta continua. “Atualmente, meu sonho é conseguir uma medalha no Mundial. Desta vez não deu certo, mas, agora, vou focar o Brasileiro, que ocorre em São Paulo, no mês de abril.”
Incentivo ao esporte
Anka elogia o apoio que recebe da Prefeitura de Estrela e também da Keiko Sports, responsável pelos quimonos usados pelos atletas durante as aulas e competições. “Eles também enviam material para que eu possa vender e, com o dinheiro, ajudar nas despesas.”
O atleta destaca que a região tem muito potencial, com atletas de qualidade, mas falta patrocínio. “Por ser um esporte individual, muitas empresas/pessoas optam por ajudar um time, por exemplo, e não uma única pessoa.”
Mesmo assim, Anka garante que é preciso manter o foco no objetivo e foi o que ele fez desde os seus 23 anos de idade, quando decidiu que o jiu-jítsu seria muito mais do que um hobby em sua vida. “Cuido da minha alimentação, procuro dormir pelo menos sete horas por dia e treino duas vezes por semana.”
O professor diz que é fundamental saber onde investir na hora de incentivar o esporte, e isso também vale para os alunos que estão no início da prática esportiva. “Sempre oriento para procurar por academias autorizadas, pois um professor precisa trabalhar a técnica e não só o combate em si.”
Anka explica que um atleta fica, em média, de dois a três anos com cada cor de faixa, e todo esse aprendizado tem um porquê. “É uma responsabilidade imensa lidar com golpes, com as limitações de cada aluno. É imprescindível que o professor tenha conhecimento para que não haja problemas para ambas as partes.”
Texto: Carolina Gasparotto

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