04/08/2017

Jaqueline Nonnenmacher

Uma vida “sobre rodas”

Jaqueline Nonnenmacher
Uma vida “sobre rodas”
Uma das expoentes na arte de ensinar e difundir a patinação no Estado e no país, Jaqueline fala do começo da carreira, que atravessa mais de três décadas, suas conquistas como mulher e profissional, seus projetos e frustrações
Ela vive sobre rodas e não é uma taxista ou outro motorista. Os patins, estes sim, são a sua segunda “bolsa”. Companheiros inseparáveis. Quando não estão “estacionados” no porta-malas do carro que auxilia nos traslados da mulher empresária, mãe, é porque estão nos pés da então professora, amiga. Nas aulas da Cia Sobre Rodas de Patinação, embala o sonho de meninas e meninos de seguir uma carreira esportiva pouco atraente quando se imagina um futuro dedicado apenas a ela, a patinação, mas um tanto recompensadora na arte de fazer o que se gosta. Jaqueline Nonnenmacher, 48 anos, fala dela, também da carreira. Passado, presente e futuro resumindo, em poucas linhas, mais de três décadas de dedicação aos patins e à arte de encantar por giros e saltos.
Natural de Estrela, onde morou até os 12 anos, Jaqueline destaca que começou a patinar ainda mais nova. “Foi aos 10 anos. Tudo começou no grupo Estrela Show, com o professor Alfredo, que era de Porto Alegre, mas duas vezes por semana vinha para o interior dar aulas. No interior do Estado, tudo começou com ele, e em Estrela, onde hoje é o Centro Comunitário Cristo Rei. Tenho muita saudade dessa época”, diz, saudosista. Três anos depois, já em Lajeado, onde foi morar com os familiares, começou a ensinar a arte. “Minha irmã Bernardete começou a dar aulas de patinação no Colégio Madre Bárbara, substituída, posteriormente, por minha prima Marlise. Passei a ajudar minha prima como monitora, auxiliando as meninas menores quando necessário. Ali, assumi o gosto por também ensinar. Me apaixonei por completo pela arte de criar, produzir shows. Quando ambas seguiram outros caminhos, primeiro minha irmã, hoje médica, depois minha prima, assumi de vez as aulas, com minha colega na época, Grasiela Kielling”, conta. Era a semente que anos depois originaria a Cia de Patinação Sobre Rodas. “Pensar nisso me emociona sempre.”
A Cia
Hoje, a imagem de Jaqueline está intimamente ligada à Cia de Patinação Sobre Rodas. A sua rotina também. “A Cia de Patinação Sobre Rodas originou-se da fusão das escolas de patinação do Madre Bárbara e do Colégio Gustavo Adolfo, onde eu dava aulas na época, em 1992”, explica. Porém, a Cia foi fundada, oficialmente, dez anos depois. Acredita que nesses 30 anos dando aulas de patinação, cerca 3,5 mil alunos já tenham patinado sob suas orientações. “Foram aulas em tantos municípios: Santa Clara do Sul, Venâncio Aires, Teutônia, Porto Alegre. Atualmente, em Encantado, Progresso, Cruzeiro do Sul e, claro, em Lajeado. Hoje, comanda cerca de 250 alunos. Quando dimensiona tais dados, faz uma reflexão: “A Cia sou eu, minha essência, o que sempre sonhei e projetei para mim”.
Filhos
Mesmo quando não está nos palcos de patinação, Jaqueline não esquece da saúde. “Procuro fazer exercícios físicos orientados, até porque o corpo exige isso, ainda mais para uma pessoa numa condição física já um pouco fragilizada como a minha”, pondera. Tem, é claro, a dedicação de mãe à filha Maria Luísa Fensterseifer, de 14 anos. “Ela patina também, tem gosto pelo esporte, mas não se encanta pelo lado competitivo, e isso eu respeito muito.” Quando sobra um tempo, gosta de viajar. Lembra com carinho de inúmeras viagens já realizadas pelo mundo afora com seus atletas, mas, principalmente, para Roma, Portugal, Disney, Gold Coast e Palma de Mallorca (Maiorca), na Espanha, onde foi acompanhar Marcel Stürmer.
E Marcel, seu maior pupilo quando o assunto é patinação, merece um capítulo à parte. “Ele é o filho homem que não tive. O filho fora da barriga”, brinca, com brilho no olhar. “Marcel é uma lenda na modalidade, principalmente para nós, da América, onde nosso esporte está ainda atrás em relação à Europa, à Itália, um país-referência, onde a patinação está inserida dentro das escolas. O Marcel foi um expoente em transformar nosso esporte, dentro do pouco que representava a patinação no Brasil, num esporte bem mais valorizado e divulgado”, garante. “Tivemos nossa importância nesse processo, mas muito se deve ao esforço dele. Lembro que, desde pequeno, ele sempre teve o objetivo de buscar o que sonhava, tinha e tem uma autoestima muito forte, um desejo enorme de vencer. E venceu.
Futuro
Jaqueline fala do futuro com naturalidade. Afirma que a sucessão do seu papel será “natural”, por quem a cerca de certa forma. Cita, para tanto, sua especializada equipe, que hoje tem quatro monitoras: Éllen Horn, Juliana Bartholdy, Michele Mottin e Andressa Bergmann. Em sua equipe de competição, conta com 20 atletas de nível estadual e com outros 15 em uma pré-equipe. “Acredito e plantei a sementinha para que a Cia Sobre Rodas perdure para sempre entre aqueles que visam o engrandecimento do esporte e não somente lucro em cima dele. Está solidificada e vai seguir mesmo quando eu vier a me ausentar, pois acredito na fidelidade, e até porque, meu sonho é ver outros Marcéis, Éllens, entre tantos outros patinadores e monitoras que já formei. Alguns seguiram os mais diversos caminhos profissionais, e outros se inspiram em meus passos para também seguir nessa carreira de conquistas. Isto me torna ainda mais vitoriosa, vendo o resultado da sementinha plantada. O esporte é quem ganha com isto.”
Jaqueline já projeta as seis competições que a Cia Sobre Rodas terá este ano, entre elas, o Brasileiro, o Pan-Americano e o Interclubes, como também a própria Copa Sobre Rodas, na sua sexta edição, e o Festival de Shows, na 12ª edição, ambos em maio. “Cerca de 500 participantes, entre competidores e patinadores, brilharão nesses eventos. Existe uma diferença entre a Copa e o Festival de Shows: nem todos que fazem patinação querem ser atletas.” E explica: “Até porque, para você ser um atleta de patinação de alto rendimento exige-se muita coisa: patrocínios dos pais, optar por uma vida regrada e quase não ter fim de semana por causa da rotina de treinos, ter dieta balanceada, preparação física, figurinos, aulas particulares, enfim, são tantas coisas que devem ser levadas em conta que acabam assustando quem quer só patinar para se divertir. Mas na nossa Cia, ainda conseguimos fazer a distinção entre as duas coisas, pois trabalhamos os interesses de ambas as vontades.”
Mas nem tudo é alegria. A professora vê com preocupação a falta de novos expoentes no esporte nacional. “Temos cada vez menos praticantes na modalidade de alto rendimento. A maioria dos bons patinadores que tínhamos até então agora estão parando em decorrência da falta de patrocínio e busca por novas carreiras profissionais de mercado. A preocupação é que novos expoentes não têm surgido”, alerta. Mas frustrada mesmo, e o semblante não esconde isto, Jaqueline fica ao ver que o Vale do Taquari e Lajeado, principalmente, sendo locais reconhecidos pela força da patinação, por mais de 30 anos, não terem, ainda, um complexo profissional para a modalidade. Sempre idealizou e sonhou com um local amplo, com uma quadra própria para treinos, com vestiários e salas de dança com espelhos. Mas logo o conhecido sorriso retorna aos lábios. “Quem sabe, um dia, teremos uma surpresa nesse sentido”, projeta com um certo suspense no ar.
Perguntas e respostas
1 - Ainda existe um preconceito dos homens, das famílias, de uma maneira geral, para com a participação de meninos na patinação?
Infelizmente, sim. É necessário acabar com esse rótulo que o esporte é apenas para meninas. Esse é um esporte que requer muita força de impulsão, equilíbrio, coordenação e resistência, tanto muscular quanto cardiorrespiratória. Os meninos têm certa vantagem em alguns desses quesitos e, na maioria das vezes, apresentam resultados muito positivos.
2 - Você esperava que, após as conquistas de Marcel Stürmer, a patinação estivesse em um patamar mais avançado no RS, no Brasil de uma maneira geral, do que hoje?
Certamente, embora a mídia sempre tenha anunciado grandes conquistas do Marcel, de uma forma geral, o que falta realmente para a patinação estar num patamar mais avançado, na minha opinião, são estudos mais aprofundados sobre o esporte, visando melhores técnicas de ensino-aprendizagem para as categorias de alto rendimento. Estudos fisiológicos e biomecânicos dos movimentos, assim como profissionais mais interessados e dispostos a aprender sobre os mesmos.
3 - Por que a participação das mulheres nos esportes ainda é menor, até mesmo no comando de clubes e de entidades esportivas?
No meio de que participo, as mulheres são muito atuantes nesse sentido. Talvez em outras organizações falte ainda o espaço que poderá ser preenchido e executado com dinamismo e competência também. Basta a iniciativa.
4 – Qual a maior dificuldade de estar à frente de um negócio envolvendo esporte no Vale do Taquari?
A falta de incentivo.

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