04/08/2017

Jorge de Freitas, o "Taxa"

O árbitro amador do Vale do Taquari mais conhecido da sua geração

Em justos acréscimos
Jorge de Freitas, ou simplesmente “Taxa”, o árbitro amador do Vale do Taquari mais conhecido da sua geração, fala da carreira, do saudoso passado por diversos campos e projeta o futuro para a categoria
Ele já engraxou sapatos por sete anos quando garoto. Ex-pedreiro, também trabalhou com outras pedras: as preciosas, e foi servidor público de Lajeado por 16 anos. Agora, Jorge de Freitas (53) caminha por corredores políticos mais diretamente. Mas é pelos gramados e quadras do Vale do Taquari, onde fez de seu nome uma referência na arbitragem, que Taxa segue correndo, seja em campo, seja no comando da categoria. Fundador da Associação Regional de Arbitragem (Ara), que hoje chega a movimentar quase cem pessoas pelas competições da região apenas num fim de semana, o árbitro amador avalia a classe, relembra do passado nas mais de três décadas de atuação com um apito e cartões na mão e faz projeções para aqueles que um dia só trajavam preto, como ele.
Apesar de ter nascido em Bom Retiro do Sul, Taxa, que não lembra da origem do apelido de infância - “mas é com x”, garante -, viveu quase a vida toda em Lajeado, com a mãe, doméstica, e o pai, trabalhador da indústria. A saída do Vale do Taquari, mesmo, apenas para Passo Fundo, quando o jovem foi tentar a vida vendendo cachorro-quente. Já de volta, casou com Miriam de Freitas (53), com quem tem um filho, Renan (27). Mãe e filho trabalham juntos numa confecção própria.
Foi justamente nessa época que o até então jovem volante recebeu o convite de um tio, conhecido como “Joia”, que apitava, para também vestir preto. A solicitação foi reforçada por Volmir Pedrasa de Oliveira, ex-presidente da Liga de Lajeado. “E eu aceitei”, diz. “Surpresa maior que o convite foi terem me escalado, logo no meu primeiro jogo válido por uma competição, para apitar um clássico, e por um Regional. E eu aceitei de novo”, relembra. “Era Sebe de Boa Esperança x Fluminense de Mato Leitão, com muitos jogadores de nome em campo, como o hoje técnico Mano Menezes. Aquilo era um clássico de pegar fogo. Meu tio me avisou: você só vai ter uma chance e precisa acertar. Sem dúvida, hoje, as coisas são bem mais fáceis em campo”, destaca ele, que, por sinal, aproveitou muito bem a chance e segue até então com o apito.
Sobre o passado e o presente do futebol amador, Taxa, com experiência de mais de três décadas, analisa. “Tem os dois lados. Havia, antigamente, mais tradição, maior rivalidade e valor sentimental pelas vitórias. Mas os campeonatos evoluíram muito. Hoje, é um programa para toda a família, até porque as famílias locais devem ter representantes em campo, pois os regulamentos assim exigem. E isso faz muito bem.”
Outras evoluções
Para o amador árbitro, os jogadores também evoluíram muito. “O pior é aquele atleta ‘patifo’, que só reclama e ainda é bandido em campo, joga a torcida contra a arbitragem. Mas, hoje, é bem mais difícil tu veres uma agressão a um árbitro do que anos atrás. A segurança e a educação aumentaram”, destaca ele, vítima de cinco agressões mais sérias na carreira. “A mais grave, numa decisão regional entre Águia Azul de Fazenda Vilanova e Juventude de Vila Arlindo. E eu errei. Aos 38 minutos do segundo tempo, ao dar o primeiro amarelo do jogo, fui agredido a socos. Fui para o vestiário e, para surpresa das mais de três mil pessoas presentes, mesmo com cinco pontos feitos na cabeça, voltei para finalizar a partida sem esmaecer.”
Quanto à evolução da tecnologia, que poderá vir a auxiliar ainda mais a carreira dos árbitros, Taxa atesta. “Vai ser ótimo para ajudar aquele que só tem segundos para decidir. E que só tem 50% de chance de acertar: erra ou acerta”, afirma ele, que, por curiosidade, é um pouco avesso às tecnologias do dia a dia. Não tem e-mail, e celular ainda é algo para dar “alô”. “Mas vai ajudar”, afirma ao lembrar daquela que considera a sua principal falha na carreira. “O árbitro, dentro das quatro linhas, geralmente sabe quando erra. Foi num jogo importante entre Alto da Bronze e Esperança de Languiru. O jogador sofreu pênalti, mas dei a vantagem, pois o colega do time ficou com a bola, livre, para fazer o gol. E ele errou. Nunca se dá vantagem num lance assim. Se é pênalti, é pênalti”, ensina. “A questão é que essa tecnologia ainda não vai chegar a esta geração, nem talvez à próxima geração de quem atua nas quadras e gramados amadores”, acredita.
Cartão amarelo de alerta
Para Taxa, o Vale como um todo é muito rico em atividades esportivas. “Só de competições que precisam de árbitros, são muitas. Tanto que já vem gente de fora para apitar aqui. Quem se dedicar, pode tirar um bom salário complementar, mas vai, para isso, ter que abrir mão de muitas coisas, como passar algumas noites e dias de folga trabalhando”, alerta. “E, por outro lado, é cada vez menor o número de jovens dispostos a correr esses riscos da arbitragem. Preferem buscar outras carreiras, pois ainda não enxergam no apito uma perspectiva de fazer carreira, mesmo pelos gramados profissionais. E isso vai começar a fazer falta.”
Futuro
Assessor do vereador Carlos Kayser, descarta candidatar-se a algum cargo político de momento, mesmo que a sua presença nas quadras e gramados já não seja com a mesma rotina de anos atrás. “Já até tinha parado, mas resolvi voltar a convite de meu irmão”, destaca o hoje vice-presidente da ARA, agora comandada por Sérgio Scheibler. “Estar nos gramados, nas quadras, em meio aos atletas, no cenário esportivo, me faz muito bem e feliz. Sigo assim enquanto posso ou enquanto não levar um cartão vermelho”, brinca.

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