04/08/2017

Germano Tomasi

Eficiência “técnica” e empresarial

Germano Tomasi
Eficiência “técnica” e empresarial
Ex-jogador e técnico, multicampeão pelos gramados amadores, Tomasi fala um pouco de sua trajetória nos campos e casamatas do Vale do Taquari, assim como das “estradas” do Brasil
De jogador amador “mediano”, conforme sua própria análise, a um dos principais treinadores da sua era pelos gramados amadores do Vale do Taquari, como provam os números e a história. De motorista desempregado a proprietário de uma grande transportadora, Germano Tomasi (62) serve de exemplo para muitos em como o esforço e a dedicação podem reescrever situações encaradas, às vezes, como irreversíveis. Hoje, o técnico multicampeão do futebol amador e minifutebol social não passa de um observador/torcedor quando o assunto é bola rolando. No que se trata de caminhão rodando, a história é outra.
Natural de Progresso, Tomasi mora, hoje, em Lajeado, mas trabalha em Estrela, onde toca a Tomasi Logística. A transportadora emprega mais de 150 funcionários nas unidades de Canoas, Caxias do Sul, Estrela, Lajeado, Goiás, Recife e na filial de São Paulo, esta tocada por um dos filhos do empresário, Rodrigo (30). O outro, Diego (33), trabalha nas unidades do Rio Grande do Sul. A empresa contabiliza cem caminhões e mais 30 carretas agregadas, no transporte de cargas para todo o Brasil, estrutura e situação impensáveis para Tomasi, anos atrás, quando então ele era motorista de caminhão de uma empresa da região, mas acabou demitido. “Perdi o emprego, mas não pude me acomodar. Com o dinheiro que recebi comprei uma lancheria na entrada de Bom Retiro do Sul. Como atendia muitos motoristas e caminhoneiros, assim que sobrou um pouco de dinheiro decidi voltar a investir na área dos caminhões”, diz. “Na época, a Fruki começou a vender para fora do Estado seu litrão, e eu, como motorista, passei a transportar o produto para Foz do Iguaçu-PR. Aos poucos, a demanda foi crescendo e precisei ampliar meu trabalho, buscar alternativas. Tive que ter muita coragem e abrir mão de dias de descanso e mesmo de férias, contar com o apoio irrestrito de minha esposa e familiares. É o caso do Brasil, que vive uma grande crise hoje. Não podemos nos entregar para ela. É preciso buscar soluções, alternativas”, avalia ele, que coloca o problema da inadimplência como obstáculo maior do que mesmo as criticadas condições das estradas.
Jogador
Antes dos 20 anos, Tomasi jogou em torneios municipais de Progresso e Arroio do Meio. “Era um time formado por amigos, mas eu era um atleta apenas mediano. Anos depois, joguei em veteranos. Foi então que, em 1999, me convidaram para comandar em Sério um time até então desprezado. Montamos um bom elenco, com jogadores que conhecíamos, alguns de fora, e acabamos campeões. No ano seguinte, treinei o Vasco Bandeira e também levantamos a taça de Marques de Souza. Fomos bi no primeiro semestre de 2001 e, no segundo, treinei o Gaúcho de Teutônia, quando faturamos o título estadual de amador”, relembra. “Minha maior conquista. O time era muito bom e eu tinha uma parceria forte com o diretor Ernani Lirsen, e sempre contamos com apoio da torcida.”
Minifutebol
Tomasi ainda faturaria outros títulos por clubes da região, entre eles, municipais em Arroio do Meio, Marques de Souza, Sério, Teutônia e outro Regional pelo Gaúcho - seu último trabalho nos gramados amadores. Aos poucos, ingressou no minifutebol. No Clube Tiro e Caça, viu sua equipe e sobrenome virarem referência de conquistas. “Com o Só Bala faturei sete títulos, sendo seis seguidos, num legítimo hexacampeonato”, revela Tomasi, que, com sua saída do Só Bala, em 2012, viu todo o time “pendurar as chuteiras e aposentar a camiseta”. “Era um grupo fechado, que até tinha chance de faturar mais dois, três títulos talvez, mas optamos por não arriscar a nossa imagem. O Só Bala fez a história dele. Hoje, outros times podem fazer a sua.”
Passado, presente e futuro
Germano Tomasi relembra com saudosismo de conquistas e histórias marcantes que presenciou ou viveu nos gramados. “A conquista do Estadual Amador com o Gaúcho, em final diante do 8 da Graciema, de Bento Gonçalves, é inesquecível. Lá, um 0 a 0; aqui, outro 0 a 0, tanto no tempo normal quanto na prorrogação. Nos pênaltis, uma vitória por apenas 2 a 1. Lembro que cheguei para o atleta deles que iria bater a última penalidade e afirmei que ele podia ser o melhor jogador do mundo, mas que nosso goleiro Celso Horn, o ‘Coruja’, iria fazer a defesa. Não deu outra. Acho que o jogador sentiu o que lhe falei.” Entre outras histórias, destaca uma que hoje é encarada como engraçada. “Na semifinal do campeonato de Perau, dirigindo o Vasco da Gama, o Perau precisava ganhar, mas a gente segurava o empate. O Perau nos pressionou, nos encurralou na nossa defesa, mas, de repente, nosso ponteiro do Vasco da Gama, num contra-ataque, saiu livre para marcar. Foi quando um torcedor deles atirou uma bola para dentro do gol e o juiz parou o jogo. Ainda bem que seguramos o empate, a vaga, e isso, hoje, é motivo de sorrisos.”
Para Tomasi, o futebol amador como os regionais e municipais está caminhando para um fim, e exemplo é a já não realização de campeonatos em muitas comunidades e municípios. “Cedo ou tarde vai acabar. Não tem mais aquelas pessoas que fazem o futebol com amor, com vontade. Hoje, precisa de muito trabalho para fazer um campeonato, e hoje é difícil conseguir gente disponível para trabalhar, de mesário a treinador, da copa à diretoria, e de graça como fazíamos ou até mesmo pagando. Muito trabalho e pouco reconhecimento”, avalia ele, que afirma ter, por todos esses anos, principalmente no amador, aplicado muito dinheiro próprio. “Não tenho ideia de valores hoje, mas investi, sim, como também clientes e fornecedores me ajudaram. Mas não me arrependo disso, pois foram conquistas muito gratificantes. Hoje, eu pensaria diferente”, apesar de afirmar que seu afastamento dos gramados deve-se à sua idade.
De acordo com o ex-treinador, o futebol profissional, principalmente clubes do interior, perde muito com esse cenário, como na revelação de novos talentos. “Veja quantos atletas amadores acabaram vestindo a camiseta do Lajeadense nos anos 1990. Muitos numa comparação com os dias de hoje. Os clubes profissionais do interior terão ainda mais dificuldades nas montagens dos times em relação aos da capital, mas que, indiretamente, também sofrem com o menor acesso a atletas revelados, e de uma maneira geral é o futebol brasileiro que perderá com tudo isso.”

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