08/08/2017

Menudo

“A teimosia que me fez chegar à fama”

Futebol com amor
“A teimosia que me fez chegar à fama”
Conheça a história do lajeadense Alexandre Azambuja Chaves, o “Menudo”, que enfrentou desafios, mas chegou aos times principais do Santos e do Fortaleza
O lateral Alexandre Azambuja Chaves, o “Menudo”, como foi carinhosamente apelidado pelos parceiros de campo, enfrentou muitas limitações, mas sua coragem, determinação e o amor pelo futebol fizeram com que encarasse de frente todos os desafios. Durante sua carreira, passou por diversos times profissionais do Estado. Conquistou a fama em equipes como Santos e Fortaleza e, hoje, é um grande professor de Educação Física e incentiva garotos sonhadores a buscar o mesmo caminho.
A história de Menudo no mundo do futebol começou cedo. Aos 15 anos, seu tio José Carlos Chaves, treinador do Lajeadense na década de 1980, o observou na escola e viu que o garoto era meio limitado com a bola, mas que, com treino e técnica, poderia ter grande chance no meio. “Ele me levou para fazer teste no Internacional, em Porto Alegre. Foi o comentário da cidade na época. Mas não passei.”
Na mesma semana, o então técnico do Lajeadense, Antônio Carlos Vuaro, encontrou o Menudo no Centro de Lajeado e o convidou para treinar com o time profissional do Alviazul. “Ele disse que acreditava em mim e que eu tinha potencial. Foi a partir daí que começou o mundo do futebol para mim.” Ele entrou no time e, como era cabeludo, recebeu o apelido de “Menudinho do Lajeadense”. “Eu era bastante verde e tinha muitas limitações e dificuldades com a bola, mas tinha força de vontade.”
Ele lembra que se esforçava muito para aprender. Conta que um dia foi de ônibus até Encantado para treinar com o time profissional, e toda a imprensa da região noticiou isso na época, o que ajudou ainda mais a divulgar seu nome.
Essas dificuldades só serviram para que Menudo desenvolvesse suas habilidades cada vez mais. Em 1986, completou 16 anos e começou a participar de competições com o juvenil do Lajeadense. Em 1987, a comissão técnica do time foi contratada pelo SER Caxias, de Caxias do Sul, e Menudo e mais dois garotos foram levados para esse projeto. Lá, ele jogou pelo juniores e começou a marcar seu nome no futebol gaúcho.
“Era o começo de uma nova fase, mas longe de casa, morando embaixo da arquibancada, passando frio, necessidade, sofrendo com a distância, me comunicando por carta, e tudo isso no silêncio para não perder o sonho.” Uma história marcante com apenas 17 anos.
Aos 18 anos, passou a ser capitão com o Caxias, e com 19 anos, começou a competir em grandes torneios, quando se tornou campeão do interior. Depois do marco, logo subiu para o time principal. Com 20 anos, encerrou sua carreira no juniores e foi colocado à disposição para ser emprestado, porque não seria utilizado pelo time. Meses depois foi contratado.
Em 1991, começou a jogar no Guarani de Venâncio Aires. Menudo lembra que foi um ano bom para o time. Ficou 19 jogos invicto no Gauchão. Por lá permaneceu um ano, até que o Brasil de Farroupilha montou um grande time na Segunda Divisão, e o seu empresário Vitor Bertseli o levou para esse projeto. “Nunca me esqueço de que, num jogo amistoso com o Internacional, fui o melhor em campo, e o técnico do Inter, o Antônio Lopes, cogitou me levar para o clube.”
O sonho do Santos
Ele poderia ter ido para o Internacional, mas não foi. Um time paulista arrematou o lateral antes.
Menudo conta que estava na concentração com os colegas do time quando o empresário chegou ao quarto e o chamou para dar uma notícia: ele iria para o Santos. No mesmo momento, os colegas começaram a rir e a brincar dizendo que era piada. “Eles gargalhavam dizendo: “Ah, para com esses boatos, é pegadinha da direção”.
Mas não era. Chaves teve que arrumar suas malas na mesma hora e, no fim da tarde, já participou do primeiro coletivo no Santos. “Aquilo foi pra mim o auge. Chegar na frente da vila Belmiro, e toda a imprensa paulista esperando pra entrevista. Os jogadores, também, me receberam muito bem, inclusive havia gaúchos.”
Menudo foi contratado como o terceiro lateral do time. Jamais imaginava que iria entrar em campo, achava que era apenas um complemento para o time. Contudo, sua participação se concretizou contra um dos times mais importantes da época, o São Paulo, que ficou campeão do mundo tendo no elenco craques como Cafu, Raí, Ronaldão, Ronaldo Luís, Palhinha e Vitor. Ele entrou em campo no dia em que o primeiro lateral foi vendido e o segundo lateral de machucou.
Estar no Santos foi topo da carreira de Menudo. Ele conheceu e era amigo íntimo da família de Pelé, com quem passava os fins de semana e era o assador de churrasco, afinal, essa parte sempre sobrava para um gaúcho, relembra. Edinho, o filho de Pelé, se tornou um grande amigo de Chaves. “Eu estava num time maravilhoso, com fama e feliz. Quando chegava aos restaurantes, as crianças me reconheciam e pediam autógrafos. Era maravilhoso esse carinho.”
Mas o sonho durou um ano. O time não foi muito bem no Campeonato Paulista, e o clube resolveu desenvolver um projeto novo no ano seguinte com o técnico Vanderlei Luxemburgo, e a maioria dos jogadores foi dispensada.
A ida para o Fortaleza
Em 1993, Menudo, então, foi vendido para o Fortaleza e se mudou para o Ceará. “Outra experiência maravilhosa. Um lugar fantástico para se morar, tanto para lazer como para o profissional.”
Por lá, ficou um ano e teve que sair do clube porque o time teve muita dificuldade financeira no ano e problemas de gestão. Tudo isso fez com que Menudo decidisse retornar para Lajeado.
De volta a Lajeado
Sua volta para Lajeado, em 1994, já com 24 anos, foi marcante em sua vida. Menudo retornou ao Lajeadense, time que lhe deu oportunidade lá na adolescência, mas, agora, como profissional. No mesmo ano, o empresário Nilson Maldaner já o levou para testes na Alemanha, mas ficou três meses e acabou voltando.
Em 1995, foi para o Esportivo, de Bento Gonçalves, e começou com uma carreira rodeando a região, jogando também no Santa Cruz. De 1997 a 1999 retornou ao Lajeadense, ficou campeão da Copa Abílio dos Reis e jogou na Primeira Divisão com o time. Em 2000, teve uma passagem rápida pelo Espírito Santo. E em 2002, prestes a se aposentar, com 34 anos, teve novamente uma oportunidade no Lajeadense.
Em 2003, ele viu que precisava investir no futuro e decidiu fazer um curso de Educação Física na Univates. Foi quando se tornou professor de escolinha de futebol e largou o futebol profissional.
Vida de jogador
Chaves diz que, hoje, é muito mais difícil se tornar um jogador de futebol e ter as oportunidades que ele teve, apesar de, atualmente, a infraestrutura e a logística serem muito superiores. “Na minha época, acho que até pelas dificuldades que passávamos, havia menos interessados. Hoje, com a demanda como está, poucos conseguem chegar ao topo.” Ele conta que o futebol frustra porque é racional. “Não importa o sentimento e, sim, o que você é no campo. Se é bom, fica; senão, é, adeus.”
Segundo ele, muitos jogadores que chegaram até um time de juniores e juvenil acabaram se perdendo em algo no caminho ou desistiram e foram sendo esquecidos ou nem sequer reconhecidos. Menudo diz que, do total, levando em conta os que vêm da educação e das escolinhas, apenas 1,3% de toda essa demanda consegue chegar a uma situação de intermediária para boa.
Amor acima do dinheiro
Mas, para ele, todo esse desejo pelo futebol é muito mais do que dinheiro. “O futebol não tem só a alegria financeira, mas também a social, emocional e os valores que agregam de saber viver em grupo. Tudo isso não tem preço que pague. Essa experiência é fantástica.”
Menudo conta que o pós-profissional também é maravilhoso. “Ser um ícone e ter papel fundamental com a comunidade é muito importante. O esporte é uma alavanca para o desenvolvimento da pessoa e do social.”
Momento fama
O tempo de fama passa muito rápido. Ele conta que tem atletas que permanecem muitos anos, mas a maioria que chega ao auge fica pouco tempo. “Meu destino e percurso foram curtos, mas segui a carreira até quando perdi a motivação.”
Menudo conta que sempre trabalhou muito e foi determinado em suas ações, por isso, jogou até depois dos 34 anos como profissional,mas acabou desistindo de atuar porque perdeu o estímulo. “Não fui mais valorizado. Quando o mês tem 90 dias, a gente passa a não ser remunerado e se sente abandonado.” Ele conta que teve que pensar no futuro e em sua família. “Minha carreira, por mais maravilhosa que tenha sido para mim, não trouxe sucesso financeiro, até porque joguei em outra época.” Ressalta que, atualmente, um jogador que atua no Santos ganha em torno de R$ 70 mil por mês. Naquela época, ganhava R$ 10 mil. “Apesar de terem sido salários que nunca mais vi, bem acima da realidade atual”, admite.
Segundo ele, talvez por sua natureza ou educação em casa, nunca teve o lado financeiro como o principal em sua carreira. “Minha maior riqueza nunca foi o dinheiro, talvez faltou um pouco mais de ambição, fazer melhores contratos. Eu queria mesmo é jogar bola. Sempre amei o futebol.” Menudo conta que, até hoje, sonha com frequência que está na Vila Belmiro vivendo tudo de novo.
Ele diz que era um guri limitado, que treinava de noite até tarde e que foi a teimosia que o fez chegar à fama, mesmo curta.
Como professor
Chaves diz que é fascinante ser professor e ver as crianças entre 5 e 11 anos admiradas com o futebol. “A maioria dos meninos sonha em jogar no Inter e no Grêmio ou até mesmo em time europeu.” Conta que isso tudo passa quando chegam aos 11 anos e começam a entender a realidade e dificuldades. “Mas os deixo viver a magia do sonho.”
Como professor, agora tem muitas histórias do futebol para contar e um jeito de lateral para ensinar e inspirar.
Sua carreira
*1986 - Começou a competir com o juvenil do Lajeadense;
*1987 - Juniores SER Caixas, de Caxias do Sul;
*1991 - Guarani, de Venâncio Aires;
*1992 - Brasil, de Farroupilha;
*1992 - Santos, de São Paulo;
*1993 - Fortaleza, do Ceará;
*1994 - Lajeadense, de Lajeado;
*1994 - Torneios na Alemanha;
*1995 - Esportivo, de Bento Gonçalves;
*1996 - Santa Cruz, de Santa Cruz do Sul;
*1997 a 1999 - Lajeadense, de Lajeado;
*2000 - Espírito Santo;
*2002 - Lajeadense, de Lajeado
Fonte texto: Carine Krüger

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