09/08/2017

Fiorioli e Edu Bala

Liberdade sobre duas rodas

Motociclistas
Liberdade sobre duas rodas
Carlos Augusto Fiorioli, 51 anos, e Edu Bala, 52 anos, são parceiros em um projeto de passeios de motos pelas Serras do Sul do país
Ficar 14 horas em cima de motocicleta rodando em meio a belas paisagens e serras com mais de 1,5 mil metros de altura é o lazer da dupla de amigos Carlos Augusto Fiorioli, 51 anos, promotor de Justiça de Lajeado, e Eduardo Westfall, o “Edu Bala”, 52 anos, um dos dez motociclistas com o maior número de quilômetros rodados no Brasil.
Juntos, Fiorioli e Edu criaram um projeto que já é desenvolvido há um ano de conhecer as seis serras do Sul do país no formato que chamam de BV (bate e volta). Saem em um sábado de manhã, por volta das 6h, e chegam em casa à noite, para ficar com a família.
A escolha das serras é em razão da distância e beleza, as quais são tão lindas de conhecer quanto as partes do sul e do norte da Argentina, Chile e Peru. Fiorioli diz que as três grandes viagens que os motociclistas da América do Sul fazem são para conhecer o Ushuaia, Machu Picchu e Alasca. “Essas viagens são caras e demandam muito tempo, assim, o projeto pessoal vai ao encontro, porque é mais curto e barato.”
Fiorioli anda de moto há 40 anos. Teve o prazer e o perigo de ganhar uma motocicleta de seu pai com 12 anos de idade. Já andou por muitos lugares do mundo com esse veículo e sempre manteve a mesma emoção e satisfação de adolescente.
Edu Bala começou a andar de moto com 18 anos, depois que fez carteira de motorista. É dependente químico em recuperação, há 20 anos “impo”, ficou mais de 20 anos sem andar de moto por causa de álcool, drogas e confusão. Depois dos 33 anos, conseguiu se libertar (“só por hoje”) e voltou a andar de moto. Primeiro comprou uma Falcon; depois, juntou dinheiro e adquiriu uma Honda 1.100 esportiva, e aí, na batalha, conquistou uma Hayabusa semiesportiva, de alta velocidade. Começou a andar com o motogrupo Tranquilos e, hoje, anda com Fiorioli no Big Trails. “Minha ideia não era de velocidade, e, sim, quilometragem. Fiz 140 mil quilômetros num ano. Depois, comprei uma zero e fiz mais de 90 mil quilômetros no ano. Tenho quase 300 mil quilômetros com moto esportiva, que é uma marca muito difícil de fazer.”
Ele está entre os dez motociclistas, exceto quem trabalha com o veículo, como motoboys, com o maior número de quilômetros rodados no Brasil. Ele anda quase 50 mil quilômetros por ano. Um motociclista médio, iniciante, percorre, em média, 600 quilômetros por ano.
Edu é um motociclista completo, que envolve estilo de moto, parada, padrão de velocidade e direção defensiva. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, vai a São Paulo com maior frequência - 2,8 mil quilômetros de distância.
Sonhos e daqui por diante
Agora, com o horário de verão, os dois pretendem refazer todo o percurso, mas almejam sonhos maiores. Fiorioli sonha e planeja ir, antes de seus 60 anos, com o filho mais novo, hoje com 10 meses, para o Alasca. “Quando ele tiver 10 anos, quero pôr ele em cima da minha moto e vamos ‘pro’ Alasca. Depois, voltamos de avião e mandamos as motos de volta com navio.” Já Edu quer conhecer todo o Brasil sobre rodas.
Perfil deles
Os passeios que a dupla faz são considerados da categoria Iron But (bunda de ferro), porque ficam mais de 14 horas sobre rodas. Para fazer isso num dia precisam ser preparados emocionalmente e fisicamente e ter motos com mais de 700 cilindradas e no estilo Big Trails, com proposta dupla para estrada asfaltada e não asfaltada ou, no máximo, uma crossover. “Na motocicleta, você não é uma cápsula andando pelo ambiente. Na motocicleta, você participa do ambiente.”
Assim explicam que em uma motocicleta de alta cilindrada, ou de grande porte, fazendo trecho misto, é preciso ter médias de velocidade para estar de volta no mesmo dia. O horário não é restrito, mas ficam sobre a motocicleta mais de dez horas.
Evitam almoços pesados, para participar mais do ambiente e desfrutar o prazer de estar sobre rodas, de andar e conviver com o ambiente no percurso. “Não tem nada a ver com alta velocidade, com fazer curvas encostando o joelho no chão. Esse é motoesporte.”
Fiorioli diz que, em nível de Brasil, o meio de transporte mais comum é por carros e caminhões, e se o motociclista viajar em uma velocidade média de 90 km/hora, andará no meio dos caminhões e, isso, em especial no Brasil, que aprova caminhões bitrem e rodotrem com 24 ou 26 pneus, irá fazer com que o motociclista se exponha a um risco enorme. “A velocidade média precisa ser considerável, porque demanda horas sobre o veículo. Por isso, o horário de verão é o mais recomendado para esse tipo de passeio.”
A dupla curte o estilo off-road (fora da estrada) de achar belezas mais rústicas, naturais e o que tiver mais dificuldade.
Valores pessoais
Os valores mais importantes para os motociclistas são a raiz, a família, da qual a pessoa se afastou para andar de moto. “É preciso estar bem com tua família, e quando tu voltares feliz, embora cansado, terás teus queridos te recebendo.” Essa é a base de tudo e também para andar de moto. “O fato de você andar tanto de motocicleta, pra motociclista você não precisa explicar, e quem não é motociclista, não vai entender. É algo muito especial de cada pessoa.”
Em duas pessoas
Qualquer passeio mais distante, quanto mais reduzido o número de pessoas, mais eficiente será a estratégia do passeio. O recomendado é, no máximo, quatro motociclistas. A “motocada” mais eficiente é em dois, porque as decisões e os riscos são menores.
As seis serras por onde passaram
1ª) Serra do Corvo Branco
Fica um pouco acima de um lugar famoso para as pessoas que gostam de turismo, Urubici/SC. Nessa cidade tem Morro da Igreja, Morro da Pedra Furada. A Serra do Corvo Branco é chamada assim em razão de uma ave – urubu-rei - de plumagem branca que confundiram com um corvo. É a mais rústica que tem ao norte, faz divisa com Cambará do Sul (quem vem da BR-101, Tubarão) e vai sair em Urubici.
A serra foi feita pelo Exército Brasileiro com o maior corte trincheiro do Brasil - uma cava em uma montanha numa extensão de aproximadamente cem metros e 90 metros de altura. Esse passeio, todos podem fazê-lo em mais de um dia. Ela tem asfalto só até a chegada em Urubici e cinco quilômetros em volta do topo dela. Quem vem do litoral encontra obras e bastante barro vermelho. É uma serra que gera bastante esforço físico. De Lajeado, a distância gira em torno de 1,3 mil quilômetros.
2ª) Serra do Rio do Rastro
É a mais famosa de todas, conhecida mundialmente. Toda asfaltada, com 1,5 mil metros de altitude no seu topo, tem muretas, paradas com restaurante, mais acesso de estrutura e infraestrutura por ser mais visitada. Parte do litoral, na altura de Criciúma, mas a base da serra está em Lauro Müller. Ela chega ao seu topo na localidade de Bom Jardim da Serra. Tem uma extensão de sete quilômetros em suas curvas. Sofre com as intempéries do dia, principalmente após o meio-dia, quando ocorre a viração - uma onda atmosférica que vem do mar e cria uma neblina que sobe e impede a visão. Por isso, é recomendado estar lá entre 9h e 12h. O que não ocorre para a dupla, que sempre chega após o meio-dia em decorrência da distância percorrida com partida de Lajeado às 6h.
3ª) Serra da Rocinha
Fica na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, liga o litoral, na altura de Timbé do Sul com São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul, bem no topo da divisa. Ela começa com estrada de chão e tem rios costeando a estrada. No topo da serra tem uma rampa de paraglider com 1,1 mil metros de altitude. A estrada é tranquila, com movimentação de caminhões e carros com velocidade baixa, há turistas. É um passeio que deixa o viajante entusiasmado.
4ª) Serra do Faxinal
Está sendo asfaltada e sendo conhecida e procurada por turistas. Desce de Cambará do Sul, passa pelos Parques Nacionais de Aparados da Serra e sai em Praia Grande/Santa Catarina. Serra mista, partes de asfalto e partes de estrada de chão.
5ª) Serra do Pinto
Famosa Rota do Sol - ERS-453, que vai de Caxias do Sul até Itati e sai em Terra de Areia. Há túneis no caminho que podem ser apreciados em decorrência da engenharia e beleza da natureza.
6ª) Serra do Umbu
Liga São Francisco de Paula (próximo de Gramado) e Maquiné, antes dos túneis em Capão da Canoa. A mais rústica delas, sem asfalto, com vegetação sobre a pista, quase uma trilha para subida de jipes e motocicletas, com curvas-cotovelo e uma altura por volta de 800 metros. Passa pelo Rincão dos Kroeff , um local inóspito.
Fonte texto: Carine Krüger

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