09/08/2017

Ivan Fernando Bender

Atleta nunca sofreu uma lesão

Camisa 8
Atleta nunca sofreu uma lesão
Aos 70 anos de idade, Ivan Fernando Bender relembra com alegria os 60 anos de atuação nas quadras e campos do Vale do Taquari e se diz abençoado por conquistar tantos amigos, sempre ter honrado seus compromissos sem ganhar nada para jogar e nunca ter sofrido nenhuma lesão que o afastasse do mundo da bola
Lajeado - A reportagem da Revista Encontro com o Esporte foi recebida no apartamento de Bender, no Edifício Metrópole, em Lajeado, para realizar a matéria sobre sua trajetória no meio esportivo regional. Educado, perspicaz e com uma memória invejável, as quase três horas de conversa foram de muito aprendizado e a certeza de que esse esportista foi um dos nomes mais importantes de nossa região, da história no futebol e no futsal, nas últimas seis décadas. Bender, que era comparado a Ademir da Guia, considerado o maior jogador de todos os tempos do Palmeiras, nunca foi expulso em sua carreira.
Atualmente, Bender participa, com um grupo de amigos, de um “ritual” de jogos aos sábados à tarde, no campo dos Irmãos Maristas. Esse encontro se mantém há mais de 35 anos e já ocorreu no Castelinho, Clube Tiro e Caça e Campo dos Ferri, hoje, Padel do Vale. “Para mim, os 70 anos foram de muitas vitórias. A maior: a vida”, analisa com nostalgia o veterano atleta.
História
Desde os 10 anos de idade, Ivan Bender já disputava “peladas” nos campinhos dos bairros Americano, Centro, Florestal e Moinhos. Naquele tempo, ele e seus amigos criaram a equipe do Santos FC, tendo como sede uma sala da Madeireira Encantado, onde o pai de dois integrantes do time era o gerente da empresa. Na época, as camisetas, calções e bola foram adquiridos com recursos oriundos de uma ação entre amigos, composta de mil números, a CR$ 1,00 cada. Todos os bilhetes foram vendidos em dois dias no trajeto entre o Frigorífico Lajeado (próximo do Arroio Saraquá) até o Piraí (Empresa Ereno Dörr), com visitas aos estabelecimentos comerciais, indústrias e residências. O prêmio era uma bola de couro da marca Luss Ball. Dois anos depois, o reconhecimento de seu empenho ocorreu quando conquistou a artilharia (11 gols) do Torneio de Interséries de Futebol, no campo do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat). A habilidade com a bola e o faro de gol levaram Bender a treinar com o grupo de atletas do Clube Esportivo Lajeadense na falta de atletas para completar o time reserva. Sem chuteiras, Bender lembra que utilizava um sapato Passo Doble nos treinamentos.
Também neste ano, conquistou a primeira medalha como campeão em torneio de futebol de salão promovido pelo Clube Recreativo Lajeadense (hoje CTC), na época disputado onde hoje existe um estacionamento (defronte do Sicredi do Centro). Essa medalha traz boas recordações para Bender por ter sido a primeira e também pelo fato de jogar descalço, no piso de piche, o que acabou causando diversas bolhas em seus pés.
Aos 13 anos, o destino foi atuar pelo segundinho do E.C. Americano. Na inauguração do Estádio Florestal, seu time eliminou os titulares do Americano, o que acabou levando sua equipe para a final contra o Olarias. “Perdemos nos pênaltis e acabamos ficando com o vice-campeonato”, relembra Ivan. Suas atuações o levaram a vestir a camisa do grupo de titulares do Americano. O Olarias, que era uma das equipes mais fortes de Lajeado, não perdeu a oportunidade e contratou o então jovem talento.
A um passo do Inter
Em 1961, com 15 anos de idade, teve uma chance de ouro de ganhar notoriedade estadual e nacional com a passagem de Abílio dos Reis por Lajeado, na época, reconhecido como descobridor de talentos (Falcão, Batista, Cláudio Duarte, Carpegiani e tantos outros). Abílio chegou acompanhado do senhor Closs, chefe da torcida organizada do Internacional de Porto Alegre, com o propósito de levar Ivan Bender para a capital do Estado, a fim de vestir a camisa 8 da categoria juvenil. A proposta eram moradia e estudos pagos, além de um salário. Seu pai aceitou de imediato, mas o entrave ocorreu pela opinião de sua mãe, que declinou do convite para que o jovem filho se transferisse para Porto Alegre, alegando a distância e a segurança numa cidade com aquelas proporções. “Não guardo mágoa, pois acredito que minha mãe só queria o meu bem”, diz o desportista.
Passado esse episódio, Bender voltou a pensar nas equipes da região, onde atuou no Santa Clara, Juventude de Conventos, Brasil de Marques de Souza, Sete de Setembro de São Caetano (Arroio do Meio), 7 de Setembro de Capitão e São Cristóvão, onde disputou campeonatos municipais, regionais e amistosos.
Um fato histórico e inédito marcou a final do Municipal de Lajeado no passado, quando Bender vestia a camisa do São Cristóvão. Para a primeira partida da final diante da equipe do Rabello, os atletas ficaram concentrados, de sábado à tarde até a hora do jogo, no domingo, no extinto Salão Prediger. Todos com muito conforto: clchão, janta, café da manhã, almoço, banho, leitura, jogos, sessão de cinema e preleção. Tudo organizado por Elio Giovanella (treinador) e Ernesto Giovanella (presidente).
Aos 17 anos, Bender foi campeão de futebol de salão vestindo a camisa da União Lajeadense de Estudantes Secundaristas (Ules), na Olimpíada Regional dos Vales do Taquari e Rio Pardo, realizada em Venâncio Aires. A conquista ocorreu diante do time de Taquari, pelo placar de 2 a 1. A equipe era formada pelos atletas Délcio Mariante, Cícero Craide, Vítor Hugo Junges, Ivan Bender e Luís Carlos Kieling.
Paralelamente às competições de futebol de campo e de futebol de salão, Bender atuou por vários anos nas equipes da Lajestre e Aliança, nos campeonatos de minifutebol do Clube Tiro e Caça. “Acredito que sou o atleta mais antigo em atividade no Alto Taquari”, afirma o jogador.
Reconhecimento
Entre julho de 1966 e abril de 1973, Ivan vestiu a camisa da equipe da Cia. de Cigarros Souza Cruz, momento que disputou vários torneios de futebol de salão (Torneio da Cidade, Copa Integração e Torneio Souza cruz), conquistando diversos títulos de campeão e se destacando como artilheiro de algumas dessas competições. Nessa época, também vestia a camisa do E.C. São José de Lajeado, no futebol de campo, quando seu time eliminou a Olvebra e Minuano, nas cobranças de penalidades, em que a bola teve que ir para a marca da cal em dez oportunidades. Além do título de campeão, Bender foi o goleador do certame, com quatro gols.
No mês de abril de 1973, Ivan Bender acabou se desligando da empresa Souza Cruz, coincidindo com a transferência do gerente João Carlos Schilling, para Blumenau-SC. No jantar de despedida de Schilling, Bender teve uma grata surpresa. Foi chamado diante de todos os convidados, para receber das mãos de Paulo José Schuck, presidente da Atlética na época, a camisa 8, com a qual sempre havia atuado, e por ter defendido sem mácula a organização. Este foi o primeiro ato dessa natureza na Souza Cruz.
A partir de abril de 1973, já na empresa Weiand S/A, Bender deu continuidade à sua trajetória no mundo da bola, disputando torneios de futebol de salão e mais os campeonatos promovidos pelo Sesc, com alguns títulos de campeão e artilheiro, além de fazer parte da seleção dos torneios. Aos 39 anos de idade, Bender disputou o último estadual de salão, na competição promovida pelo Sesc. O evento ocorreu em Santa Cruz do Sul, pois seu time havia sido campeão em Lajeado (momento em que conquistou sua última medalha), o credenciando para a disputa regional.
Após, Ivan Fernando Bender encerrou sua participação nas quadras de futebol de salão, permanecendo apenas no futebol sete, modalidade em que até hoje ele “castiga a bola”, segundo suas palavras, no campo dos Irmãos Maristas, aos sábados à tarde.
Bender lembra com saudosismo das equipes em que atuou e, com uma memória elogiável, descreve com detalhes os nomes dos integrantes de cada time.
Americano: Gaspar Klein, Ari Bruxel, Adilson Dresch, Paulinho Martins, Elemar Müller, Sapo, Lula, Dario Boettcher, etc.
Olarias: Ritter, Padeiro, Harry Petry, Nino Werner, Renê Johann, Nenê Amaral, Beto Schlabitz, Nego Veio Amaral, Paulo Thiesen, Elmiro Grün, Saravá Preussler, etc.
Juventude: Marino Wolf, Egon Koch, Lauro Prass, Irmãos Ulsenheimer, irmãos Fucks, Romeu Armange, Ernani Borscheidt, Franzmann, etc.
Sete de Setembro (São Caetano): Hélio Fredo, Zeno, Plínio, Soneca, Paulão, Arquimedes, Padre Inácio, Roque Kerbes, Adão Jachetti, Celomar Schneiders, etc.
7 de Setembro (Capitão): Lírio, Zambiazi, Erno Bladt, Jaime Agostini, Pedro Bladt, Eugênio Köerbes, Dutra, Toninho Schabbach, Wietzke, Vovô (“Alfaiate”), etc.
São Cristóvão: Toninho, Ênio Noschang, Irno Alves, Osmar Müller, Hélio Fredo, Hilário Loefler (pintor), Ademir e Mica (irmãos), Bié, Nelson Pretto, Egídio Becker Delwing, Lemar, Moacir, etc.
Santa Clara: Antônio Wildner, Poti Schnorr, Waldir Schabbach, Ernani Schnorr, Renato Schabbach, Toninho Schabbach, Miguel Braun, Paulo Schneider, Edemar Wietzke, Luizinho Castro, etc.
Souza Cruz: Pinguinho, Amaral, Adilson Dresch, Helio Brenner, Flávio Martin (“Magrão”), Wietzke, Sapo, José Ruschel, Cláudio Henn, Sérgio Koefender, Orlando de Boer, Pedro Bladt, Mário Manthey, Ari Bruxel, Lula, Beto Weber, etc.
Weiand: Inácio Ely, Ito Johann, Luciano Scherer, Paulo Kieling, Odilo Braga, Roque Lopes, Marcos Wiethölder, Waldir Lange, Oli Bach, Ilson Lange, Lauro e Albano Kalkmann, Pedro Fava, Paulo Mallmann, Celso Bisolo, Reinaldo Andrade, Cleto Schnarth, Max Krey, Emerson Fernandes, Darci Vallari, Claudinei (“Jacaré”), Inácio Matte, etc.
Lajestre: Pimenta, Alair, Marchini, Almir, Cesar Garcia, Airton Machado, Cláudio Zagonel, etc.
Aliança: Wilson Klein, Mottin, Caumo, Nico Beuren, Bisogno, Nilson May, Milton Klein, Kniphoff, Born, Rogério, Braguinha, Paulo Heineck, Antônio Christ, etc.
Ele pede para finalizar com agradecimentos, que considera imprescindíveis:
¬ À esposa Marli e ao filho Fernando, pela compreensão, paciência, consideração e boa vontade nesses anos todos.
¬ Ao saudoso Günter Prediger, por ter acreditado e tê-lo lançado no time titular do Americano, aos 13 anos, com a camisa nº 8, que acabou sendo o número que utilizou em todas as equipes em que atuou.
¬ Ao Betinho Schlabitz, pela cedência da bicicleta, para que ele pudesse se deslocar até o campo do Olarias.
¬ Ao Romeu Sbaraini, pelas caronas no seu Fusca, até Marques de Souza.
¬ Ao Guido Freitag, por conduzi-lo até Santa Clara em sua Kombi.
¬Ao Eugênio Köerbes, que o buscava e o trazia (Lajeado/ Capitão/Lajeado) com sua Rural.
¬ Ao Élio Giovanella (treinador) e ao Ernesto Giovanella (presidente) da SER São Cristóvão, que lhe proporcionaram a compra da primeira chuteira nova. Até então, só havia calçado chuteira usada, adquirida de terceiros. Isto foi em 1966, então com 19 anos.
¬ Ao Adilson Dresch, por jamais ter-lhe negado uma carona em sua Kombi, tanto para trabalhar quanto para jogar.
¬ A Deus, por ter-lhe concedido esse dom e protegido por toda vida para que ele pudesse desempenhar com tranquilidade, desenvoltura e sem lesão suas atividades.
“Aproveito para agradecer a todos, indistintamente, companheiros ou adversários, com os quais tive o prazer de conviver e compartilhar vitórias ou derrotas, que nada mais são do que aprendizados. Sempre primei pela lealdade, o que caracteriza um homem de caráter”, finalizou Ivan Bender.

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