11/08/2017

Cristiano Freitas Ferreira

Aos 30 anos, 12 deles correndo por gramados profissionais, ele já rodou o Brasil e defendeu as cores de mais de dez clubes

Crônicas dos gramados

A família como titular

Cristiano Freitas Ferreira, ex-jogador do Lajeadense, abre mão do projeto de seguir no futebol profissional para permanecer na região que o adotou e também poder ficar mais perto da família

Muitos, com sua idade, ainda sonham um dia jogar futebol profissional ou almejam vestir o uniforme de um grande clube do futebol brasileiro. Aos 30 anos, 12 deles correndo por gramados profissionais, ele já rodou o Brasil e defendeu as cores de mais de dez clubes, entre eles, o Lajeadense. Só não pendurou as chuteiras de fato porque segue atuando pelos gramados amadores, também do futebol society. Diz não saber sobre o amanhã, já que o ontem foi surpreendente em muitas coisas. Hoje, Cristiano Freitas Ferreira se divide entre os treinos por conta própria, o serviço como industriário e a família. E foi o fato de poder estar mais perto desta o principal motivo de repensar sua trajetória no futebol. “Cristiano Gaúcho”, como ficou mais conhecido, principalmente após ir atuar fora do Estado, é natural de Porto Alegre. Formado nas categorias de base do Grêmio, veio a se profissionalizar no Lajeadense, aos 18 anos, jogando no hoje extinto Florestal. Meia, também atuou muito como lateral esquerda, principalmente depois de deixar Lajeado. Rodou o Estado e o país.  Voltou a vestir a camiseta do Alviazul no primeiro semestre de 2005. Oito anos depois, esteve outra vez em Lajeado. Desta vez para uma visita a amigos que fez no Florestal. Foi quando conheceu sua esposa, Natália Pietschmann, e seu enteado, Lucas Pietschmann, de 7 anos. Começava ali uma cumplicidade com o menino muito grande, cuja relação é sincera, natural e um dos motivos para o jogador pensar em abandonar o futebol profissional.

Brasil afora

Depois da passagem por Lajeado, em 2005, Cristiano seguiu carreira. Atuou por Juventude (2006); Porto Alegre e Sampaio Corrêa-MA (2007); Cachoeira e Inter de Lages-SC (2008); Cascavel-PR e 14 de Julho (2009); Milan de Júlio de Castilhos (2009); Aimoré e 14 de Julho (2010); Santa Cruz (2011/2012); Panambi e Macaé-RJ (2012); São José-SP, Hercílio Luz-SC e São Paulo-RS (2013); e Asa de Arapiraca-AL e Hercílio Luz-SC outra vez (2014). Seus últimos clubes foram o Paragominas-PA (2015) e O Comercial-MS (2016). Depois de ser titular do Esporte Clube Comercial, vice-campeão sul-mato-grossense, eliminado pelo Joinville na Copa do Brasil, o jogador gaúcho decidiu voltar ao Rio Grande do Sul. Tentou acertos com clubes da região, inclusive com o Lajeadense, mas, sem sucesso, resolveu parar. “Várias coisas pesaram na minha decisão. O futebol profissional está longe de ser aquilo que é sonhado pelos garotos. É muito difícil. A instabilidade financeira é incrível. É raro você assinar um contrato longo, então, o amanhã é logo ali e muito incerto”, avalia. “Em muitos locais, joguei sem receber o prometido ou mesmo com atraso, sem a mínima estrutura e apoio. Muitas vezes, me alimentei apenas com arroz e salsicha por dias seguidos. Cheguei a passar fome”, revela. “E quero também poder ficar mais perto da minha família, do meu filho. É bom saber que o Lucas está me vendo atuar, mesmo que por campos do futebol amador, society. Ele está me acompanhando, e eu posso acompanhá-lo, no seu crescimento, e até mesmo podermos bater uma bolinha juntos. É a minha família a prioridade hoje”, afirma.

Crise

Empregado numa empresa de doces, Cristiano não abre mão dos treinos nas horas vagas. A rotina de corridas, academia e trabalhos com bola é seguida à risca. “Estou até melhor fisicamente do que quando atuei por alguns clubes. Com certeza, poderia atuar bem por mais dez anos”, diz. Ele confessa que ainda não desistiu de voltar aos gramados profissionais, mas que isso é uma finalidade, uma chance cada vez mais longe. “O futebol brasileiro vive uma grande crise. Basta vermos o Lajeadense, representante de toda uma região, poderosa, mas com muitas dificuldades para ficar de portas abertas. Falta uma maior união dos sindicatos, dos próprios clubes, para ter uma temporada cheia. O futebol profissional do interior vai cada ano encolher mais. Há muito clube amador com melhor estrutura do que alguns profissionais. Só vão ficar os grandes mesmo, os clubes das capitais e um ou outro do interior.

” Glamour“

Claro que o futebol profissional te oportuniza o contato com pessoas diferentes, culturas novas, há um maior glamour. Não esqueço quando fiz um gol olímpico contra o Grêmio, no Olímpico, e meu pai pôde me ver pela TV, comemorando. Assim realizei um sonho dele, que sempre quis me ver jogar bola”, diz, emocionado. “Podem até rir, mas, na verdade, o que mais sinto falta daquela época são as concentrações, o hotel, a ‘resenha’ da partida. Aquele processo de você estar mais focado no jogar futebol e só. Até mesmo a torcida contra faz um pouco de falta.” 

Ainda de chuteiras

Cristiano segue calçando chuteiras para jogar futebol society, como na Soges e Sete de Setembro, hoje no Galera, e no futebol amador, agora num clube de Carlos Barbosa. “Estou adorando. Se fazem muitos amigos, se tem o apoio de muita gente. Cito o mais recente o do Sirio Pereira Duarte, alguém que vive o futebol regional com muita dedicação”, observa. “Como já afirmei, é ótimo fazer um gol e poder ver meu filho ali na arquibancada comemorando. Depois do jogo, voltar para casa com ele. Hoje, não conseguiria fazer isso no futebol profissional. Seria complicado demais levar minha esposa e ele para uma nova cidade, fazê-los largar tudo, para quem sabe três meses depois não saber nem para onde vamos. Agora, em caso positivo, seria só eu”, diz. “Mas não me sinto frustrado em ter largado o futebol profissional tão cedo”, reafima, com o filho no colo, à espera da esposa na porta da Lyall Construtora, empresa onde ela trabalha. “Hoje, tenho vida também fora do campo”, ressalta Cristiano ao ir embora para casa, abraçado com ambos.

Fonte texto: Rodrigo Angeli

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