11/08/2017

SER São Cristóvão

Um time de todo um bairro, cidade, região

SER São Cristóvão
Um time de todo um bairro, cidade, região
Fundado a partir da união de dois rivais de um mesmo bairro, clube alviverde projeta outras muitas temporadas de confraternizações e conquistas fora e dentro das quatro linhas
Numa época de muitas guerras, de povos e torcidas, comemorar bons exemplos onde a união de lados opostos deram certo é sempre um golaço. Um deles foi marcado por dirigentes, sócios, simpatizantes e moradores de dois clubes amadores de um mesmo bairro de Lajeado. Em meados da década de 90, ao invés de seguirem na luta por mais torcedores e espaço no mesmo local da cidade, praticamente mesma rua, Juventude e Sociedade Atlética São Cristóvão resolveram vestir uma só camiseta, mesmo que nova, verde e branca. Naquela noite de 3 de janeiro de 1994 nascia a Sociedade Esportiva e Recreativa São Cristóvão, hoje sediada na Rua Osmar Moreira Líbio, no bairro de mesmo nome. O histórico e judiado livro ata traz,em linhas registradas a punho, muitos e fantásticos detalhes deste movimento. Pois 23 temporadas depois, o clube, já de rica história e muitas honras, títulos municipais e regional, projeta muitas outras temporadas de sucesso sem esquecer das lições, dificuldades e glórias do passado que o fizeram ser reconhecido não apenas por um bairro, mas toda uma cidade, uma região.
A força daquele movimento se viu em campo. Sagrou-se cinco vezes campeão municipal, em decisões como a de 1999, quando foi preciso três clássicos diante do rival União de Carneiros para dar a suada volta olímpica. Time foi finalista do Regional da Aslivata por três anos seguidos, sendo a primeirajá no ano de sua fundação. Ficou com o título de 1995, levou o vice em 1994 e 1996. Também ficou em segundo em 1998, quando fora bicampeão invicto nos aspirantes. O título principal voltou a ficar perto ano passado, quando a equipe treinada por Arlei Haefliger, tendo no plantel atletas experientes como Maravilha, Delvino, Pitol e Sílvio Peralta, e jovens promessas da região como o zagueiro Edo e os atacantes Edilson e Tiaguinho, foi derrotado pelo Juventude, de Westfália. Diretoria promete empenho na busca pela principal taça regional nesta temporada.
Início de tudo
Paulo Gilberto Dörr (60) é uma das pessoas do clube que viveu muito destas conquistas de perto. Presidente de 1997 a 1998, ele vê hoje aquela decisão de unir o clube como uma ideia acertada. “Acredito no valor e no potencial da sadia rivalidade, mas o tempo mostrou que a ideia de unirem forças no bairro foi um grande gol. Hoje temos um clube conhecido, identificado com a comunidade, consolidado com o seu fazer, vitorioso e bem administrado”, diz ele, sempre atuante em outras diversas diretorias. Paulinho lembra das dificuldades e conquistas, de um clube que no início nem tinha onde mandar suas partidas e hoje é dono de uma das melhores sedes do futebol regional. A estrutura começou a ser montada ainda em 1994. Com apoio do poder público, no abandonado campo as vezes utilizado pela Associação de Moradores do bairro, inclusive na disputa de alguns municipais, começava a se erguer as bases da nova casa: o Estádio ElisioTrevisol, uma homenagem a um dos sobrenomes mais atuantes e importantes do clube onde “família” também é sinônimo de dedicação e sucesso. A família Trevisol que o diga.
Renovação
Ainda assim Paulinho vê desafios a serem constantemente superados pelo clube do coração, assim como por outros de Lajeado, enfim, do futebol amador regional e em geral. “Aqui, por exemplo, temos o caso do nosso municipal, que com muitos problemas não sairá, infelizmente. Precisamos, de uma maneira ou outra, promovermos uma renovação geral de diretorias. Para tanto é necessário também incentivar uma juventude que não quer mais participar, muitas vezes nem no campo, quem dirá da vida dos clubes”, explica ele. “Em partes entende-se. Os jovens têm muito mais oportunidades e diversidades neste mundo mais agitado. Na nossa época o domingo era para jogar futebol. Hoje tem quem só jogue futebol pelo celular”, diz. “E anos atrás o futebol era muito mais vivido também pelo pessoal do interior, trazia um espírito comunitário que fazia crescer.”
Identificação
Airton Follmer (55) estará, ao longo de toda esta temporada, onde já esteve por tantas vezes. Será presidente pelo sexto ano (2003; 2004; 2012, 2013, 2014 e 2017). “É o meu barco”, sorri. Ele não se arrepende de ter estado tantas vezes envolvido com o clube, na liderança ou nos bastidores. “Comecei no clube acompanhando meu guri. A gente acaba se identificando, gostando, se apaixonando. Tive o imenso prazer de presenciar quatro títulos consecutivos, do Regional Certel (2007 a 2010), com meu filho Marquinhos no comando técnico da equipe dos aspirantes. Uma alegria inesquecível.” Mas para o dirigente há sim uma falta desta identificação no mundo do futebol amador nos dias de hoje, ainda mais em Lajeado. “Existem 30 para torcer, 60 para criticar. Dez destes até dão sugestões, mas nunca aparecem para colaborar em nada do que propõem. Aquela máxima ‘falar é fácil’ vale muito nestes casos”, desabafa o presidente. Mas o esforço dele e de outros identificados com o clube e seus apoiadores foi válido. “Olhem, por exemplo, a sede que temos. Dá orgulho”.
A opinião do atual presidente combina com a de outro nome identificado com o time santo: Valdir Luiz Berté (56). Assumiu a SER São Cristóvão meses depois de Élio Giovanella ser eleito o primeiro presidente, como indica as primeiras linhas da ata, mas ter deixado a presidência por questões éticas, já que estava igualmente envolvido na vida política do município (vice-prefeito). Para Berté, que estava no comando do clube naquele início de trajetória, mas já avassalador, essa atual falta de identificação dos bairros, comunidades com seus clubes é muito mais ampla, as mudanças dos atuais tempos atingem todas as esferas. “Olhem os jogadores, por exemplo. Anos atrás ele levava sua meia, sua chuteira, muitas vezes também o calção. Vestia a camiseta já usada em vários jogos, até com alguns rasgos, e entrava em campo. Ainda assim trazíamos grandes jogadores da época, as vezes totalmente fora dos padrões, como foi o caso do Rubens Paz, o que até foi uma novidade”, retrata. “Hoje ele pensa, primeiro, no dinheiro que vai ganhar se jogar para então vestir a camiseta, nova é claro, isso se ainda ganhar também a gasolina paga para vir atuar. Antes havia uma essência de fato amadora nas equipes. Hoje há outras motivações do que apenas a de defender as cores do seu clube, de jogar por prazer de jogar. E isso só vai piorar”, destaca o dirigente. “Mas de uma forma ou outra, seja nos dias passados ou nos de hoje, não importa, a Ser São Cristóvão fez e faz parte da minha vida”.
Futuro
O presidente Follmer, já prevendo os desafios, inclusive visando a formação de uma forte equipe como a do ano passado, que só viu o título regional escapar por pouco na decisão frente o Juventude de Westfália, completa a ideia do outro dirigente. “A montagem de um time hoje é muito mais difícil que anos atrás. Naquela época você tinha dois, três bons que pediam um pouco mais e o resto era mais livre. Hoje todos pedem mais. Tem a questão dos jogadores fichados também, e isso em locais como Lajeado, que hoje é uma ‘ilha’, é muito complicado”, avalia ele. “Mas temos sempre que buscar alternativas. É a rifa, o galeto, o apoio de amigos, sócios, colaboradores, patrocinadores. Precisamos sempre estar em movimento, ou o futebol amador vai morrer. De graça as coisas não vêm”, atesta. Para Berté, presidente das três finais regionais seguidas, o clube está no caminho certo. “Se beliscou o título no ano passado, tem que buscar algo ainda melhor para conseguir este ano. Foi assim conosco aquela vez. O que não se pode é baixar a cabeça.”
A última conquista de expressão da SER São Cristóvão ocorreu em 2015, na gestão de Vagner Rodrigo Fleck, quando a entidade ficou de posse do troféu do Campeonato Municipal Amador de Lajeado – Copa José Ernani Líbio, o “Libião”, em homenagem póstuma a este grande torcedor do clube.
Fonte texto: Rodrigo Angeli

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